sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

APRESENTAÇÃO

Este é o princípio da página DINHEIRO, dedicada ao estudo da moeda que foi a primeira unidade monetária portuguesa, com curso em Portugal desde o primeiro rei, Afonso Henriques (1128-1185), até D. Fernando (1367-1383), último rei da primeira dinastia. Funcionará doravante como PÁGINA INFORMATIVA, aberta a colaboradores e como BASE DE DADOS pública. Dado o seu carácter didáctico, estabelecerá uma ponte prioritária com o Fórum de Numismática, local onde se discutirão pormenores técnicos susceptíveis de esclarecer pontos menos claros da classificação. Estará também ligada à minha página metakrítico, mais generalista, mas onde se encontram textos, análises ou considerações sobre a numária portuguesa e mundial. Obrigado a todos pela participação e boas aprendizagens.

1 comentário:

Anónimo disse...

Vamos lá então iniciar os trabalhos, é um estudo que promete muita qualidade e interesse, numismático e histórico.

Para começar, julgo ser interessante referir a origem dos dinheiros, que longe de serem exclusivamente portugueses, foram durante séculos (desde o séc. VIII até, em raros casos, ao séc. XVI) uma peça fundamental da numária europeia.

Os primeiros dinheiros, que acabaram por lançar o mote para toda a Europa continental, remontam ao reinado de Carlos Magno.

São os chamados dinheiros Carolíngios. A sua criação e introdução foi uma autêntica revolução monetária, que, desde o Império Romano só teve equivalência, a meu ver, com a introdução do Euro, em 2004.

Carlos Magno encetou um novo sistema monometálico que tinha por base a prata. A contagem do dinheiro seguia o sistema duodecimal, o que para nós, que estamos habituados aos sistemas decimais, poderá ser um pouco confuso, mas basta pensar na forma como dividimos o tempo: os anos, os meses, os dias, as horas, os minutos e os segundos, para formatarmos rapidamente o cérebro para uma base duodecimal.

Assim, unidade de conta era o soldo, que tinha como referência ponderal a velha libra romana (que na realidade pesava c. de 327gr., mas a "interpretação" carolíngia é mais pesada, c. de 408gr.).

Desta forma, a libra de prata foi dividida em 20 partes, cada uma delas era o tal soldo, que nunca foi cunhado, mas teria um peso teórico de c. de 20gr. Cada soldo dividiu-se em 12 partes, sendo cada uma delas a unidade monetária, com um peso teórico de c. de 1,7 gr. Essa unidade monetária é o nosso Dinheiro.

Originalmente, o dinheiro carolíngio era de boa qualidade, cerca de 957 milésimas de prata fina. A subdivisão do dinheiro, era o óbolo, que entre nós ficou conhecido por mealha, ou meio dinheiro.

Resumindo:
Sistema monetário: monometálico em prata.

Referência ponderal:Libra romana

Sistema de conta: duodecimal

Unidade de conta: Soldo = 1/20 da Libra.

Unidade efectiva: Dinheiro = 12 Soldos = 1/240 da Libra.

Posto isto, ainda andamos a divagar pelos anos de 790, mas já começamos a perceber que algo se está a passar na Europa. Uma moedinha nova, muito prática, pois permite fazer tanto as grandes, como as pequenas transações, está a circular e a expandir-se pela cristandade.

Tipologia dos dinheiros carolíngios:

Como todas as moedas, os dinheiros tinham duas faces: o anverso e o reverso. O reverso é a face mais característica destes primeiros dinheiros e caracterizaram-nos durante séculos, são a face com a cruz, originalmente equilátera, mas posteriormente muito variada.
No que concerne aos anversos, os dinheiros carolíngios dividem-se em três grandes grupos:

1 - Epigráficos - significa que o anverso tem uma legenda numa ou várias linhas ocupando todo o campo desta face.

2 - Anagramáticos - como o nome indica, no lugar das linhas de texto, temos um anagrama, ou seja, algumas letras iniciais conjugadas graficamente.

3 - Arquitectónicos - representações de edifícios, muito estilizados, é certo.

(Faço aqui um parêntesis para referir um quarto tipo, ainda usado por Carlos Magno e herdeiros, mas é muito raro, que são os anversos iconográficos, com a efígie do monarca).

Origens etimológicas dos dinheiros e as suas variantes por esta Europa fora:

A raiz etimológica do dinheiro é a palavra latina denarius, nada mais nada menos que a célebre moeda de prata romana, que fez a sua aparição no mundo nos finais do séc. III a.C., contudo, não devemos confundir o denário romano com o dinheiro medieval, pois pertencem a realidades bem distintas e não existe, embora fosse essa a intenção de Carlos Magno, qualquer linha de continuidade entre uma moeda e outra, visto que os próprios romanos abandonaram o denário, por volta de meados do séc. III d.C. (embora ainda o usassem como moeda de conta) e os povos que se seguiram aos romanos, os chamados bárbaros (Burgúndios, Francos, Ostrogodos, Visigodos, Suevos, Vândalos, etc, etc.) nunca cunharam nada que se parecesse com o denário.

As variantes regionais do termo dinheiro são, entre outras, as seguintes:

França - Denier
Reinos Peninsulares - Dinero e Dinheiro
Itália - Denaro
Nas ilhas britânicas, surge uma moedinha chamada Penny que é na prática um dinheiro.

Resumidamente é isto, todos os dinheiros que sucederam ao Império Carolíngio seguem estas características base, embora com muitas variantes e, naturalmente, com uma redução de teor de prata ao longo dos séculos, até acabarem em cobre, como os dinheiros do Béarn francês do início do séc. XVI.

MCarvalho